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segunda-feira, 27 de junho de 2016

O Que é o Auto de Fé de Barcelona?

"Barcelona 1861"

 Allan Kardec enviou para o editor Maurice Lachatre, residente em Barcelona, cerca de trezentos exemplares de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e da Revista Espírita, além de algumas brochuras avulsas.
O material foi recebido na alfândega,   todas as obrigações fiscais satisfeitas. 
Tratando-se de obras literárias, porém, a encomenda teve de ser submetida ao bispo local, D. António Palau y Termens, autoridade responsável pela polícia de livraria.
 Como não interessava a divulgação daquelas obras à religião dominante, o mencionado bispo determinou a sua apreensão e que as obras proibidas fossem queimadas em local público destinado à execução de criminosos. Ao pedido que foi feito de reexportar as obras, respondeu com uma recusa assim motivada: A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.
        Assim, eis um bispo estrangeiro, que se institui em juiz do que convém ou não convém à França! A sentença, portanto, foi mantida e executada sem mesmo isentar o destinatário das despesas de alfândega, que se teve muito cuidado em fazê-lo pagar.
Kardec ainda consultou aos Espíritos se deveria apelar para as autoridades consulares, pleiteando a devolução dos livros. Os Espíritos, no entanto, orientaram-lhe a deixar que se consumasse o acto arbitrário, pois isso produziria um efeito ainda maior do que a leitura das obras, disseminando o Espiritismo com maior rapidez.

 Em 09 de Outubro daquele mesmo ano, então, a sentença foi executada, com todo o ritualismo em vigor, como se vê do resumo do auto de fé, reproduzido na Revista Espírita. Hoje, nove de Outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez e meia da manhã, na esplanada da cidade Barcelona, lugar onde são executados os criminosos condenados ao último suplício, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber:
A Revista Espírita, director Allan Kardec;
A Revista Espiritualista, director Piérard;
O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec;
O Livro dos Médiuns, pelo mesmo; Que é o Espiritismo, pelo mesmo;
Fragmentos de Sonata ditada pelo Espírito de Mozart;
Carta de um Católico sobre o Espiritismo, pelo Dr. Grand;
A História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufau;

A Realidade dos Espíritos demonstrada pela Escrita Directa, pelo barão de Goldenstubbé. Assistiram ao auto-de-fé: Um sacerdote com os hábitos sacerdotais, com a cruz numa mão e uma tocha na outra; Um escrivão encarregado de redigir a acta do auto-de-fé; O secretário do escrivão; Um empregado superior da administração das alfândegas; Três serventes da alfândega, encarregados de alimentar o fogo; Um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo. Uma inumerável multidão enchia as calçadas e cobria a imensa esplanada onde se erguia a fogueira. Quando o fogo consumiu os trezentos volumes ou brochuras Espíritas, o sacerdote e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e maldições de numerosos assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição!


Várias pessoas, a seguir, aproximaram-se da fogueira e recolheram as suas cinzas. Uma inumerável multidão enchia as calçadas e cobria o fragmento do Livro dos Espíritos, consumido pela metade. “Nós os conservamos preciosamente, como um testemunho autêntico desse acto de insensatez, disse Allan Kardec.

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